18 de setembro de 2008

DIÁRIO DE IDÉIAS

Na íntegra, o Diário de Idéias de Vitor Isensee:

"Existem dois feriados mundiais. Dia primeiro de Janeiro, e primeiro de Maio. No primeiro de Maio comemorasse o dia do Trabalho, ou do Trabalhador. Mas eu me pergunto: há motivos para comemorar a existência do TRABALHO?

Em primeiro lugar, é necessário definir o que entendemos por “trabalho”. O Homem sempre transformou a natureza. A partir do que encontramos na natureza, criamos toda a civilização como conhecemos hoje. Cimento, aço, tecidos, tinta, papel, chips eletrônicos... tudo. É verdade que ao longo da história todo esse conhecimento adquirido (a tecnologia) nos tornou menos vulneráveis aos fenômenos naturais. O homem, o mais frágil dentre todos os animais, pode hoje, TEORICAMENTE, através da tecnologia, se proteger da “fúria” da natureza, de doenças e da incerteza da falta de alimento. Esse ímpeto pela transformação é inerente ao homem, e não vai desaparecer. Podemos chamá-lo de “Trabalho”. Transformar barro numa panela é trabalho. Transformar cilício em um processador para computadores também é trabalho. Transformar uma idéia em música, embora envolva “material” abstrato, também é um trabalho. Mas o que é o TRABALHO na sociedade moderna???

Aqui devemos chamar a atenção para um detalhe fundamental: nossa sociedade moldada pela lógica capitalista se baseia na idéia do ACÚMULO. Trabalhamos para acumular dinheiro. E o dinheiro serve para GARANTIR o alimento do mês, o “pão de cada dia”, a saúde, a educação, o FUTURO nosso e dos nossos filhos. Na sociedade do ACÚMULO vive-se o tempo todo em função do FUTURO, e por isso produzimos sempre muito MAIS QUE O NECESSÁRIO. Apavorado pelas contas que chegarão no fim do mês, e pela velhice que se aproxima a cada dia, o homem moderno atravessa a vida afora trabalhando, trabalhando e trabalhando. Não vive o PRESENTE. Pouco contempla a maravilha natural que lhe foi dada pela natureza: A VIDA. A vida que é, verdadeiramente nosso único bem. Nossa única posse. Por isso reclamamos que “não temos tempo”, e que o dia precisaria de 30 horas. O ócio é tido quase que como um crime. Pois na sociedade do ACÚMULO, quem não trabalha é “vagabundo”. Por esse motivo há quem se culpe por ir à praia numa segunda-feira. O trabalho (como é definido pelo capitalismo) vai contra a integração do homem com a sua verdadeira casa, a natureza. CONTEMPLAR e LOUVAR a vida, é para a sociedade do trabalho e do acúmulo, um absurdo e uma “perda de tempo”. Por isso tantos absurdos, atrocidades e violência. Nós mesmos nos violentamos por não viver o presente, por não nos harmonizarmos com o mundo que nos cerca, conosco mesmos. O resultado é a DEPRESSÃO humana. O homem deprimido pelo trabalho, pela necessidade de acumular para garantir seu futuro, depende de psicólogos, drogas (lembre-se que café e aspirina também possuem substâncias psicoativas) e “entretenimento” para dar SENTIDO a essa lógica sem sentido: TRABALHAR PARA VIVER E VIVER PARA TRABALHAR.

O TRABALHO na sociedade moderna é o elemento que mantém a humanidade escravizada. Escravizada por ela mesma.

Não tenho dúvida de que o sentido da vida e da existência nos terem sido concedidas é muito maior que trocar de carro a cada 2 anos ou deixar um apartamento para cada filho. Existe uma chama dentro de cada ser humano que, queira ele ou não, clama por evolução. Pensemos e sejamos sinceros conosco mesmos, para perceber como evoluir.

“Bem sucedido” é aquele que percebe e alimenta dentro de si essa “chama”: O AMOR."

Vitor Isensee



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