2 de abril de 2009

Entrevista com Sandro Dias, o Mineirinho!

ENTREVISTA COM MINEIRINHO

Estreiando meu desafio como colaborador na GO Underground, disponibilizo uma entrevista feita com um dos maiores nomes do skate nacional. O cara dispensa apresentações. Senhoras e senhores, Sandrox entrevista Sandro Dias!


GO - Olá Sandro! Pra começar, a clássica pergunta: Como foi seu primeiro contato com o skate?
SD: Comecei a andar de uma forma até um pouco engraçada. Em 1986, eu e o Xan, um amigo de infância, pegávamos o skate do irmão dele, colocávamos um pneu de carro em cima e enquanto um sentava dentro, o outro empurrava na descida da garagem no maior gás. Pouco depois, às vésperas do natal, pedi um skate para os meus pais. Queria fazer a mesma coisa e andar sentado. Quando ganhei o presente, comecei a me interessar mais e a freqüentar diariamente uma pista – ou melhor, um half pipe de madeira – que alguns skatistas construíram no fundo de uma loja perto da minha casa (Força Local).

GO - Quais os motivos que o levaram a optar pelo vertical?
Meu primeiro contato com uma pista de skate já foi no half pipe, mas me divirto andando de skate em qualquer terreno. Para competir, me especializei mais no vertical. Comecei a andar numa época em que não tinha muita opção, andávamos em todos os lugares, em qualquer terreno, e isso foi muito bom para a minha formação como skatista. Na época, quando tinha um campeonato de street, todos os skatistas de vertical e street participavam e vice-versa nos eventos de vertical.

GO - Na brilhante trajetória de títulos, qual deles foi mais difícil e qual deles foi mais gratificante?
SD: É difícil apontar um único título. Foram cinco mundiais, três europeus, sete medalhas de ouro dos X Games. Enfim, todos são muito especiais e importantes. Mas tudo quando é conquistado pela primeira vez acredito que tem um ar de ter sido mais difícil.

GO - Em 2009, fazem 20 anos da sua primeira competição no exterior, nos conta como foi essa experiência.
SD: Em 1989, na Alemanha, disputei o meu primeiro campeonato internacional. Apesar de ainda ser amador no Brasil, competi como profissional e terminei em 31º. Para mim foi demais, pois acabei empatando com Mark Gator que na época era o sexto colocado no ranking mundial. Isso me motivou muito a continuar com a carreira, foi uma emoção muito grande.

GO - Quando você ganhou o seu primeiro título (no street), você esperava chegar tão longe e ser um dos maiores símbolos do skate nacional?
SD: Nunca pensei que isso pudesse acontecer um dia, mesmo porque quando eu comecei a andar de skate em 1986, o skate no Brasil era muito atrasado em nível técnico, equipamentos, incentivo, lugares apropriados para a prática, etc, se comparado ao melhor da época que eram os americanos. Era uma coisa muito distante mesmo. Somente depois de 1996, quando comecei a freqüentar o circuito europeu e acompanhar a evolução do skate mundial, é que pude sentir que um dia poderia chegar ao topo. Mesmo assim, sabia que ainda estava longe e que tudo era questão de dedicação, paciência e tempo. Nunca desisti, fui atrás e consegui. Ainda sei que tenho muito mais a conquistar, não só títulos, mas evolução do meu skate.

GO - Qual foi o melhor lugar onde você disputou um campeonato (considerando todos os fatores: pista, clima, público)?
SD: Nós passamos por vários lugares diferentes durante a temporada. São muitas pistas boas, o público ajuda em várias cidades, mas onde eu mais gostei de andar foi na China. É um país completamente diferente do Brasil, incluindo comida, costume, idioma, etc.

GO - Uma coisa nítida nas competições de skate, é que por mais que seja uma competição, existe um grande respeito e torcida entre vocês. Não me recordo de ver esse tipo de atitude em nenhum outro esporte. Qual a explicação de todo esse companheirismo? Você conquistou grandes amigos dentro do esporte?
SD: Eu tenho grandes amigos skatistas não só brasileiros, como o Lincoln Ueda, o Lécio Batista, o Sérgio Negão, Otavio Neto, etc, mas também americanos, como o Neal Hendrix. Apesar de disputarmos as mesmas competições e, obviamente, lutarmos pelos mesmos títulos, o ambiente do skate é muito legal, pois um sempre ajuda o outro. É difícil explicar um motivo, mas acho que isso faz parte da própria cultura da modalidade.

GO - Qual foi o melhor momento do Mineirinho no Half Pipe?
SD: Assim como é difícil apontar um único título, também acho complicado falar em um melhor momento só. Além de ser a minha profissão, o skate também é o meu hobby. Então, muitos dos melhores momentos da minha vida foram vividos ali.

GO - Já ficou frustrado por algum título que perdeu por um erro causado pela ansiedade?
Algumas vezes, quando a gente está muito confiante e por algum detalhe inexplicável a gente erra na hora que não pode errar, com certeza acaba causando frustração. Mas acho que faz parte da competição.

GO - Você teve influência de algum skatista da sua época?
SD: Desde criança eu procurava andar com os profissionais da época como Edsinho, Sergio Negão, Tio Liba, Georginho, etc, e gostava muito de ver o Steve Caballero e o Christian Hosoi. Esses foram os caras que me inspiraram a andar de skate.

GO - E quem dessa nova geração você destaca?
SD: A nova geração já apresenta um skate de altíssimo nível. Aqui no Brasil mesmo, tem um pessoal muito bom se destacando, como o Marcelo Bastos, o Roni Gomes, que venceu os últimos dois campeonatos Sandro Dias de Skate Vertical Amador, o Dan Cezar, o Bigode (Diego da Silva), o Pedro Barros, o Murilinho, Martin André, enfim, só por alguns de todos os nomes atuais dá pra perceber que o skate brasileiro tem um futuro promissor.

GO - Com a vinda dos X-Games para o Brasil, hoje em dia o skate está mais na mídia, porém ainda existe preconceito com o esporte. O que você pensa sobre isso? Você sofreu com isso no início?
SD: Quando comecei a andar de skate, eu e meus amigos sofremos preconceito, mas depois de muito trabalho, conquistamos nosso espaço e respeito. Além disso, os meus pais sempre me incentivaram a andar de skate e isso me ajudou para que essa barreira de preconceituosos nunca fosse um problema para mim. Em contrapartida, eles também queriam que eu estudasse e cumprisse os compromissos. Então foi uma troca natural. Fiz colégio, faculdade, etc, e sempre pude andar de skate tranquilamente. Mas hoje são mais de 300 profissionais, 130 entidades reguladoras, 10 mil competidores e 756 pistas. 3.200.000 casas do Brasil possuem pelo menos um skate e o mercado movimenta, apenas no País, cerca de 700 milhões de reais, sendo o segundo maior do mundo. Com estes números, que mostram a popularidade o skate, acho difícil falar em preconceito atualmente.

GO - Como você vê o esporte no Brasil daqui a 10 anos? Estará mais popularizado, vai continuar na mesma ou sairá da mídia?
SD: Os números que citei na resposta anterior provam que o skate já está consolidado como uma das modalidades mais populares e o processo, com o surgimento de novos incentivadores, têm tudo para continuar crescendo. A confiança que tenho não é só baseada nos números, mas também nas grandes competições que chegam ao País, como os X Games, que fomentam o aparecimento de novos atletas e investidores. O esporte sempre esteve numa evolução constante e não vejo um fim para tal evolução num todo.

GO - Conte sobre o seu projeto, "O Dia D" realizado três vezes em Santo André e se pretende levar a outros lugares.
SD: A idéia inicial do “O dia D” foi celebrar o meu quarto título mundial. Depois, quando começamos a colocar o projeto no papel, percebemos que seria muito importante criar também um campeonato para amadores como uma forma de incentivo aos jovens atletas. Hoje, independentemente da conquista de mais títulos mundiais, a intenção é continuar realizando “O dia D”, pois acho que a área de eventos de skate ainda tem muito a crescer e o público é bastante carente. O Campeonato Sandro Dias de Skate Vertical Amador também vai continuar existindo e o objetivo é fazê-lo crescer com o passar dos anos, criando uma tradição e passando por várias cidades do Brasil.

GO - Qual o tipo de som que você se inspira pra andar? Quais são suas bandas prediletas?
SD: Escuto todo o tipo de som, mas para andar de skate prefiro um som mais rápido tipo hardcore ou heavy metal, pois me dá mais gás para andar. Gosto de andar de skate ouvindo Metallica, NOFX, Rancid, Lagwagon, Pantera, Pennywise, Agent Orange, TSOL, Charlie Brown Jr, Etc.

GO - Qual a mensagem de incentivo que você deixa pra rapaziada que está na batalha, correndo atrás de um espaço no skate?
SD: Para os jovens que estão começando no skate: equipamento de segurança para prevenir machucados nas quedas; começar a andar para se divertir e aproveitar as oportunidades que forem aparecendo. Acho necessário para quem pretende ser um profissional, tentar participar do maior número de eventos relacionados ao skate, para melhorar o nível e aprender novas técnicas. Dentro disso, força de vontade, paciência, dedicação e talento são os outros ingredientes que levam ao estágio de um profissional. Seguir e batalhar pelos sonhos e objetivos, nada na vida é impossível desde que a gente acredite e batalhe para alcançar.

GO - Obrigado pela entrevista, chará!
Valeu.
Abraços.


Todas as imagens foram retiradas do site do Sandro Dias http://www.sandrodias.com.br



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